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Simulado 8 Concurso Professor De Português
RECEITA PARA A FELICIDADE
1 Certa vez, Sigmund Freud questionou uma amiga: “Mas, afinal, o que querem as mulheres?”. Nem ele nem ninguém jamais
conseguiu esclarecer o enigma. Mas, se formos um pouco mais modestos e perguntarmos apenas “o que quer o ser
humano?”, a resposta é quase óbvia: queremos a felicidade.
2 Eu não digo isso sozinho. Na verdade, essa é uma noção bastante popular entre filósofos de diferentes épocas e
orientações. Já no século 4º a.C., Aristóteles afirmou que a “eudaimonía” (felicidade) é o fim de toda ação humana. Jeremy
Bentham (1746-1832) não só definiu que a meta das políticas públicas era promover o bem-estar como fez a primeira
tentativa de calculá-lo objetivamente. Thomas Jefferson (1743-1826) incluiu a “busca pela felicidade” entre os direitos
inalienáveis elencados na Declaração de Independência dos EUA, ao lado da vida e da liberdade.
3 A grande dificuldade é que, apesar de sabermos o que queremos, somos péssimos em obtê-lo. Ou melhor, nós até que nos
saímos relativamente bem quando lidamos com a felicidade presente (temos, afinal, o prazer para nos guiar), mas basta
adicionar a dimensão temporal, isto é, colocá-la no passado ou no futuro, para que tudo dê errado.
4 A boa notícia é que, com auxílio da neurociência e da economia, psicólogos estão conseguindo mapear os problemas. Ainda
não são capazes de oferecer uma receita para a felicidade, mas já podem apontar um punhado de coisas que não
deveríamos fazer, mas vamos continuar fazendo do mesmo jeito.
5 Várias boas obras tratam do assunto: “StumblingonHappiness” (tropeçando na felicidade), de Daniel Gilbert, “The
HappinessHypothesis” (a hipótese de felicidade), de Jonathan Haidt, e “The ParadoxofChoice” (o paradoxo da escolha), de
Barry Schwartz, para citar apenas três.
6 Centro hoje meus comentários no livro de Gilbert. Se o resultado deixar eu e os leitores felizes, poderei, no futuro, voltar a
abordar o tema com o enfoque dos outros autores.
7 Acho que foi o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan quem afirmou que, “no Brasil, até o passado é incerto”. A frase é boa
porque vem revestida com ares de paradoxo. Analisando bem, contudo, há poucas coisas mais incertas do que o passado,
em especial nosso passado pessoal. E isso porque nós o acessamos através da memória, a qual, mais do que imperfeita, é
irremediavelmente traiçoeira.
8 Sempre que a utilizamos, temos a sensação de estar consultando um registro fotográfico de cenas ou um meticuloso banco
de dados. Essa é mais uma das trapaças de nossos cérebros. Qualquer um que já tenha tentado guardar fotos ou filmes no
computador sabe quanta memória isso consome. Apesar de termos bilhões de neurônios formando trilhões de conexões, não
haveria espaço para armazenar toda uma vida na forma de imagens gravadas.
9 Na verdade, o que o cérebro guarda são registros hipertaquigráficos a partir dos quais nossa mente reconstrói o episódio
cada vez que nos lembramos dele. Como não poderia deixar de ser, esse processo sofre distorções pelo que estamos
sentindo ou pensando no momento em que acionamos a memória.
10 Num experimento clássico, voluntários veem uma série de slides de um carro vermelho que se aproxima de uma placa de “dê
a preferência”, vira à direita e acerta um pedestre. Depois de observar as imagens, o grupo se divide em dois. O primeiro é o
controle. Os pesquisadores não fazem nenhum comentário para eles. Para o segundo, perguntam se viram um outro carro
passar o veículo vermelho quando ele estava diante da placa de “pare”. Em seguida, os voluntários são colocados diante de
duas imagens: o carro vermelho se aproximando de uma placa de “dê a preferência” e outra dele chegando perto do sinal de
“pare”. Quando se pergunta qual o slide que eles haviam visto originalmente, mais de 90% dos que estavam no grupo de
controle apontam para o “dê a preferência”. Já no grupo que foi influenciado pela pergunta, 80% indicam o “pare”. Uma
simples perguntinha alterou sua memória. Evidentemente, quando há emoções envolvidas, a coisa só fica pior.
11 Também fica pior quando nos movemos para o futuro em vez de para o passado. O acesso aqui já não é pela memória, mas
pela imaginação. Nós a utilizamos para tentar estimar como nos comportaremos em situações hipotéticas que ainda não
aconteceram. Mas, a exemplo da memória, nossa imaginação também carrega uma série de falhas de engenharia e vieses
que a tornam presa fácil de todo gênero de armadilhas.
12 É por isso que não hesitamos muito antes de repetir erros que deveriam ser conhecidos, como voltar a passar férias na casa
da sogra, mesmo depois dos micos que tivemos de pagar e das guerras entre parentes que tivemos de testemunhar no ano
anterior. Sob a excitação da perspectiva de sair em férias, o cérebro imagina o futuro mobilizando apenas as lembranças
positivas das estadias prévias e seletivamente ignorando as negativas. É também por isso que pessoas voltam a contrair
núpcias. O segundo casamento é, segundo Samuel Johnson, “o triunfo da esperança sobre a experiência”. Nunca se
esqueça de que a mente é uma grande trapaceira.
13 Quer mais algumas enganações? Pois bem, tendemos a considerar mais provável aquilo que imaginamos com mais
frequência. Como pessoas normais preferem pensar em coisas boas a ruins, somos aquilo que a literatura chama de “eternos
otimistas”. A maioria de nós espera viver mais, ter casamentos mais longos, viajar mais e ser mais inteligente do que a
média. Mesmo quando tomamos um banho de realidade, isto é, quando somos confrontados com fatos negativos como
sobreviver a um desastre natural ou presenciar um acidente na estrada, o efeito realístico desses eventos tende a durar
pouco e, após algumas semanas ou quilômetros, a ilusão de segurança se restabelece. Esse otimismo visceral é também a
razão do sucesso de loterias, das quais mentes racionais guardam econômica distância.
14 Por vezes, o impacto do evento negativo até reforça o otimismo. É o que concluiu um estudo de 2003 que mostrou que
pacientes de câncer tinham mais confiança em seu futuro do que pessoas saudáveis. A grande exceção a esse quadro
parece ser a depressão. O sujeito deprimido faz uma avaliação absolutamente realista de suas capacidades e perspectivas.
Em resumo, não vivemos felizes (e nem mesmo saudáveis) sem ilusões.
15 Algumas delas são bastante poderosas. O dinheiro traz felicidade? Sim, mas só até certo ponto, ou, para ser preciso, só até
US$ 100 mil, anuais. Várias pesquisas mostram que o dinheiro é necessário para garantir condições básicas de vida que nos
permitam aproveitá-la adequadamente, mas rendimentos que excedam essa cifra não acrescentam nada em felicidade. O
mesmo vale para filhos. Só que eles, na verdade, trazem infelicidade. Quatro trabalhos diferentes mostraram que o sonho da
paternidade/maternidade deixa casais mais infelizes, pelo menos no intervalo que vai do nascimento do mais velho ao
instante em que o caçula sai de casa. É só a partir daí que marido e mulher voltam a experimentar os níveis de satisfação
que tinham como recém-casados.
16 Tais ilusões prosperam porque são biológica ou socialmente úteis. Um país em que as pessoas parassem de produzir depois
de atingir determinado nível de rendimento rapidamente patinaria na estagnação econômica. No caso dos filhos a
importância é ainda mais evidente: quem não os tem não passa seus genes adiante. Nesse quesito como em tantos outros,
estamos programados para ser enganados.
17 É claro que o fato de haver ilusões necessárias não implica que todas o sejam. Há muitas, talvez a maioria, que é melhor
evitar. Como temos enorme dificuldade para imaginar corretamente como nos sentiremos no futuro, o melhor caminho é
perguntar para pessoas que estão vivendo hoje a situação que enfrentaremos como elas se sentem. Um exemplo forte é o de
uma doença terminal ou severamente limitante. Se nos perguntam como reagiríamos, muitos, do alto de sua saúde, dirão que
prefeririam morrer. Entretanto, a esmagadora maioria dos que recebem um diagnóstico sombrio ou sofrem um acidente não
tenta o suicídio. Perguntar a um bom número deles como se sentem é provavelmente uma apreciação mais realista do que a
fornecida por nossa imaginação.
18 Esse remédio, entretanto, é muito pouco utilizado. Segundo Gilbert, isso ocorre porque, entre as falhas de fabricação de
nosso cérebro, está aquela que faz com que nos vejamos como um sujeito individual e único. É claro que somos todos
únicos, mas somos também muito mais parecidos uns com os outros do que gostamos de supor.
1.Em relação às ideias e os autores mencionados no 2°parágrafo do texto, só está em discordância com estas a opção que afirma que:
a) A felicidade é algo que todos os seres humanos buscam.
b) O fim de toda ação humana é a felicidade segundo o filósofo Aristóteles.
c) A “busca pela felicidade” deverá ser inclusa entre os direitos inalienáveis dos seres humanos ao lado do direito à vida e à
liberdade, segundo Thomas Jefferson.
d) O bem-estar, sinônimo de felicidade, é a meta das políticas públicas na promoção de ações que visem ao bem comum,
segundo Jeremy Bentham.
2.Para o autor do texto uma atitude menos empafiosa em relação ao questionamento freudiano seria de:
a) Modificar o questionamento freudiano para algo mais simples de se buscar e conseguir a resposta.
b) Ratificar a pergunta de Freud à sua amiga fazendo com que cheguemos a resultados bem mais simples e objetivos através
desse questionamento.
c) Procurar esclarecer o enigma de forma a compreender que o objeto final da procura humana é a própria felicidade em si.
d) Superar os entraves e as limitações que impedem o ser humano de exercer sua vontade de ser feliz com toda sua plenitude.
3.De acordo com o texto, a maior dificuldade que temos para atingir a felicidade é:
a) Quando a colocamos numa dimensão temporal, ou no passado ou no futuro.
b) Quando a colocamos num plano espacial bem distante daquilo que fazemos em dias comuns.
c) Quando obtemos a felicidade nas pequenas coisas fugidias do nosso dia-a-dia.
d) Quando lidamos com a felicidade presente mais imediata e difícil de controlar.
4.Nem todas as ilusões são necessárias para a sobrevivência humana por que:
a) Há muitas ilusões que na verdade não nos trazem nada de positivo e, portanto, devem ser evitadas.
b) Uma parte das ilusões por nós alimentadas não são importantes para o entendimento do nosso passado e a perspectiva de
futuro que é sempre incerta.
c) A maioria das ilusões funcionam como fator determinante no entendimento do presente vivenciado por nós cotidianamente.
d) As ilusões negativas são a válvula de escape por meio da qual o ser humano consegue não cair no total e absoluto devaneio
5.A projeção que fazemos a respeito do futuro fica pior do que a volta ao passado, segundo o texto, por que:
a) Ao nos movermos para o futuro em vez de para o passado tomamos contato com supra-realidades que fogem à nossa
compreensão.
b) O vínculo criado em nossa mente entre o passado e o futuro funciona como uma ponte que resguarda-nos do contato brutal
com a realidade imediata.
c) O acesso se dá através da imaginação que também carrega uma série de falhas de engenharia e vieses que a tornam presa
fácil de todo gênero de armadilhas.
d) Acessando aquele através da memória que é uma vil enganadora e performática na construção de simulacros de realidade,
nos tornamos seres iludidos e alienados.
6.A concordância nominal foi flagrantemente violada na opção:
a) Censura não é bom para a democracia em qualquer parte do globo.
b) As milhares de pessoas que lutaram pela democracia egípcia não contiveram o choro de felicidade.
c) Os revolucionários egípcios estavam bastante revoltados.
d) Haja vista os resultados das revoluções nos países árabes, os ocidentais decidiram apoiá-los.
7.Segundo o texto o acesso ao nosso passado pessoal é muito incerto devido a(o):
a) Apresentação deste dar-se através da memória instrumento apropriado para rememorar aquilo que já vivenciamos no
pretérito.
b) Acessarmos através da memória, a qual, mais do que imperfeita, é irremediavelmente traiçoeira.
c) Aos entraves que nossa memória naturalmente nos coloca para dificultar o acesso às lembranças positivas.
d) Mobilização de fatos verídicos já vividos por nossa personalidade em conformidade com a descrição que nosso cérebro faz
deles.
8.Não vivemos felizes e nem mesmo saudáveis sem ilusões porque, segundo o texto:
a) Acreditar em imagens ilusórias ou perspectivas falsas é uma necessidade imprescindível do ser humano.
b) A falta de ilusões permite-nos vivenciar a realidade de forma positiva, em suma, elas são totalmente dispensáveis.
c) Certas ilusões acabam sendo necessárias porque são biológica ou socialmente úteis para nossa sobrevivência.
d) Precisamos das ilusões para podermos encarar a realidade de frente tal como ela é.
9.A análise da classe gramatical a que pertence o vocábulo em destaque foi realizada de forma equivocada na opção em:
a) (…) a ilusão de segurança se restabelece.= adjunto adverbial. (13º parágrafo)
b) (…) o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan.= substantivo. (7º parágrafo)
c) (…) Algumas delas são bastante poderosas. = pronome. (15º parágrafo)
d) (…) A maioria de nós espera viver mais (…) = verbo. (7º parágrafo)
10.Analisando o segmento“Na verdade, o que o cérebro guarda são registros hipertaquigráficos”, o prefixo destacado tem o mesmo
valor semântico que no vocábulo:
a) hipotropia.
b) súpeto.
c) hiperacusia.
d) hipovígil.
gabarito
1-c
2-a
3-a
4-a
5-c
6-b
7-b
8-c
9-a
10-c
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